segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Querida companhia aérea,

Fiquei presa no congestionamento das 16h às 19h. Chovia sobre o Rio de Janeiro como nunca deveria. Pelo menos, não sobre o Rio de Janeiro. A Niemeyer não é bonita com chuva. Pelo menos, não da janela de um táxi.

Fiquei presa no aeroporto das 19h às 2h. Das 20h às 22h, passei meu tempo apreciando o engarrafamento entre dois aeroportos. Tem alguma coisa muito calmante na visão da Baía de Guanabara. Ainda descubro o que é.

Por volta de meia-noite, esbarro em um cliente. Figurão de uma grande empresa. Levanto os olhos do Jonathan Miles e concordo com o Bennie Ford: “Deus nos faz, Deus nos junta”. E tem um belo de um senso de humor.

O figurão espera um vôo para Belo Horizonte. Sempre desconfiei que ele era mineiro. Ele vai de Tam. Eu vou de Webjet. Bem, talvez Deus não junte tanto assim.

Mas, realmente, Ele tem senso de humor. Ah, se tem. Passageiros da Tam vão para o portão 24. Passageiros da Tam vão para o portão 28. Passageiros da Tam urram. Passageiros da Tam finalmente embarcam no portão 26. E aplaudem. E eu me lembro como podem ser divertidas as hordas em fúria.

O Rio de Janeiro é um lugar onde nem funcionário de companhia aérea consegue manter a cara de paisagem. O moço da Tam e um passageiro disputavam quem gritava mais alto. Outros três passageiros filmavam com o celular. Ah, os indignados da Globo... pena que a equipe não pode entrar na sala de embarque...

Sempre disse que, quando saía de férias, a viagem já começava no aeroporto. Achava ótimo o fluxo contínuo, turistas empolgados com a perspectiva da viagem, salas de embarque, free shops, livrarias, corredores. Hoje, sinto dizer, aeroportos perderam grande parte de seu encanto. Nada resiste à milésima visita à livraria com preços superfaturados, ao café de R$5, ao ar-condicionado para pingüim e, principalmente, à visão dos turistas empolgados com a perspectiva da viagem. Como me irritam os turistas!

Mas pior que o chá de cadeira de madrugada –que até reserva esses momentos de pura diversão - são as segundas-feiras de manhã. Nos conhecemos já, quase todos. Já nos vimos muitas vezes, em muitas outras segundas-feiras como esta. Conhecemos alguns pelas mochilas da Vale e Petrobras, outros pelos ternos. Todos pelo sono. Somos nós os que acordamos às 4h e corremos para não perder o vôo das 6h. Somos nós que fazemos de tudo para aproveitar um pouco mais, em casa, a noite de domingo. Mas somos nós também que chegamos à conclusão de que o domingo acaba bem antes de começar o Fantástico. E depois disso, é tudo uma segunda-feira prolongada. “Um bando de semipunidos, todos nós: aprisionados sem uma pausa, desesperados por ascender.”

O menino vai ser bom



O menino vai ser bom. No que depender dela (nem tudo depende, e ela bem sabe), certeza que vai ser também muito feliz. O mundo vai continuar inteiro, desde que eles estejam juntos. Onde estiverem. E cabe a ela, nesse curto tempo que dura a infância, levá-lo para onde for. Se for longe, serão novas as aventuras. Se for perto, um quintal com jaboticabeira vira o mundo inteiro na imaginação. E a cada nova descoberta, seja daquela pirâmide do Egito, seja do caramujo embaixo da pedrinha, ela vai vibrar junto com o menino. As descobertas serão dela também. E o mundo será todo novo, de novo.

O menino deu um susto nela. As coisas nunca são certinhas, do jeito que se planeja. Isso ela sabe também. Algumas coisas não duram para sempre. Isso ela também já aprendeu. O menino é para sempre. Algumas coisas assim o são, ainda bem. E se uma coisa ela vai saber ensinar para o menino é a arte de se reinventar.

Terei



Eu tive um futuro promissor pareceu uma comunidade interessante por um tempo. Agora não. Deletei.