domingo, 16 de agosto de 2009

Iconoclastia (ou perguntas de elevador)

Amigo atribui a mim causo de que não me lembro. Na verdade, tenho quase certeza de que não foi comigo, mas com outra pessoa próxima. A não ser que a vergonha tenha me causado uma crise de amnésia aguda. E pelo sim, pelo não, melhor mesmo não lembrar. Ainda assim, faz-se a fama, há que deitar-se na cama, conto:
Eu, estagiária salafrária, tentava entrevistar um figurão, ministro do Lula. O evento estava lotado e enquanto os repórteres esperavam o político, desisti e entrei em um elevador. Quando vi, a personalidade estava lá. Era minha chance. No auge da inexperiência e atordoada pela oportunidade naquele espaço de dois por dois, me vêm à cabeça perguntas pertinentes à entrevista em si: “-Qual o seu signo? Para que time torce?” Niqui nosso amigo ministro me tasca um beijo na testa. Bem...
***

Nunca consegui dissociar o artista de sua obra. Nunca entendi pessoas que dizem:

“Adoro essa música!”
“Quem canta?”
“Sei não!”

Sempre admirei o cantor, às vezes mais que a música cantada.
Disso, resulta que sempre tive ídolos. Muitos deles. Dos quais sempre quis saber tudo. E de um, descobri até o número do PIS. Não me orgulho disso.

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A vaidade humana é uma coisa que me intriga. Para que precisamos tirar uma foto com nossos ídolos? Além de um sorriso amarelo no papel e uma solicitude conformada, o que mais pensamos que vamos ganhar? Dizemos a eles: "olha pra mim, veja que eu existo, diz que eu existo". Como se apenas pelo reconhecimento de nossa existência o ídolo fosse dizer: “Você é genial. Onde você estava até hoje? Como vivi até hoje sem te conhecer?” Isso não acontece, claro. E o que sobra é frustração.

***

Depois que me mudei para o Rio, estou colecionando celebridades. Para amigos mineiros, esses encontros viram causo de buteco. Mas, depois do Chico, ainda não tive nenhuma ânsia tiética aguda incontrolável. Dia desses, hora do almoço, na Travessa da Travessa do Ouvidor, lugar que vou pelo menos duas vezes por semana, escuto o seguinte diálogo:
- Você pode encomendar o livro para mim? – pergunta o cliente ao vendedor
- Claro. Qual o seu nome?
- Cildo.
Minhas anteninhas se eriçam... Quantas pessoas nesse mundo de meodeos se chamam Cildo? Vem o vendedor me salvar:
- Cildo de quê?
- Cildo Meireles.

Pois é. E daí? E daí nada.



Daquió E no dia, eu ainda estava de sandália...

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